Pesquisar este blog

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

A CRIANÇA FALANDO DOS LIMITES

Laura Monte Serrat Barbosa

Depois de ser gerado, cresci numa bolsa, dentro de minha mãe. Nós dois construímos um cordão que nos ligava. Eu não percebia que aquele espaço era tão pequeno. Tinha a impressão de que o universo era só meu.

Conforme fui crescendo, fui sentindo os limites. Eu me mexia, e minha mãe logo percebia. A minha vontade era tomar conta de todo o seu corpo. Mas eu não podia, porque eu não era ela. Era um ser distinto, para o qual foi reservada somente aquela bolsa.

Quando nasci, o espaço aumentou. Confesso que me senti um pouco perdido e comecei a chorar. Embora eu estivesse num espaço muito maior do que uma bolsa, logo senti os limites desse "espação". Eu teria que aprender a respirar e, por isso, chorei. Enquanto chorava, meus pulmões começavam a aprender o que teriam de fazer para deixar o ar entrar. Minha mãe agora não respirava mais por mim. Que saudade daquela bolsa!Essa saudade não durou muito, pois logo o "espação" passou a ser delimitado. Puseram-me no colo, num berço, dentro de roupas, e comecei a me sentir mais seguro.

Dali a pouco, percebi que minha mãe não se alimentava mais por nós dois, e novamente coloquei o "chorador" para funcionar, pois o meu corpo me avisava que eu precisava me virar. A partir daí vieram os horários, e eu comecei a aprender que nem tudo é como a gente quer, na hora que quer e na quantidade que quer.

Fui crescendo, apesar de todos esses limites, e continuei achando que o espaço grande e eu éramos a mesma coisa. Então, fui aprendendo a resistir às limitações que a vida começava a me impor: não queria comer na hora de comer, queria comer somente doces, não queria tomar banho, não deixava cortarem minhas unhas, queria o brinquedo maior e mais colorido e, se desse, um monte desse brinquedo de uma só vez.

Tinha a sensação de que eu controlava tudo. Meus pais, no entanto, não deixavam o controle na minha mão. Isso me deu um certo alívio, já que tenho um amiguinho que ficava com o controle e sofria muito, pois seu "espação" foi ficando cada vez maior. Ele tinha tudo o que queria, mas tinha um "baita" medo de, por ser tão pequenininho, não dar conta daquela imensidão.
Eu chorava quando os meus pais me ensinavam, mas, do mesmo jeito que acontecia no meu bercinho, o choro me ajudava a entender mais um pouquinho da vida.

Mais velho um pouco, não precisava mais chorar constantemente, pois aprendi a falar e logo usava essa habilidade para persuadir os meus pais. Mas os danados não se deixavam enrolar e iam a cada dia mostrando que os limites nos ajudam a nos tornarmos humanos.
Meu amiguinho, aquele de quem falei agora há pouco, foi ficando cada vez mais "bicho". Ele gritava muito, jogava-se no chão, chorava, batia, dava chutes e, no final, conseguia romper os tênues limites que lhe eram impostos e continuava com o controle nas mãos.

As pessoas não gostavam muito dele e começaram a chamá-lo por uns nomes difíceis, mas que significavam que ele não estava crescendo: egoísta! panaca! bobalhão! chato! insuportável! Cada vez que ele ouvia uma palavra dessas, achava que isso é que era o correto e passava a fazer mais malcriações para fazer jus ao rótulo que lhe estavam dando.

Coitado! Com tanta coisa e sem paz. À noite, dormia agitado. Acho que também chutava os sonhos. Durante o dia, não enxergava um passo diante do nariz.

Eu aprendi que, para vermos além de nós mesmos, é preciso nos depararmos com obstáculos, pois eles nos permitem buscar saídas, olhar para os lados, para frente e para trás. O que muita gente acha que é ruim, como um "não" na hora que queremos muito alguma coisa, é o que vai manter acesa a chama do desejo e, certamente, nos ajudar a encontrar formas mais adequadas de obtermos o que queremos. Esse esforço que fazemos para romper barreiras é o que vai provocando nosso crescimento emocional e cognitivo.

Acho que é por isso que eu estou aprendendo tão rapidamente as coisas na escola. Meus pais me ensinaram que o "não" é algo que faz parte de nossa vida. Já o meu amiguinho está tendo muitas dificuldades. Ele não aceita as regras existentes, pois sua vida até este momento foi feita somente de satisfações imediatas.Fico pensando que quem tem tudo o que quer, na hora que quer, apaga a chama do desejo, não precisa fazer nenhum esforço e, por isso, não cresce.
Já imaginaram alguém sem desejo? Eu penso que esse alguém se torna insaciável, pois não precisa buscar, esperar. Está sempre engolindo as coisas como elas vêm. E quem consegue aprender, alimentar-se, engolindo sem mastigar, sem digerir, sem selecionar o que é bom e precisa permanecer daquilo que se pode deixar de lado?

Agora que estou bem maior entendo que limites na dose certa não nos fazem sofrer. Pelo contrário, permitem que a gente vá aprendendo a lutar por aquilo que deseja, a ficar forte para enfrentar as dificuldades e a contra-argumentar para que os limites não se tornem rígidos demais e impossíveis de serem flexibilizados caso a gente precise.

Por isso, pais de todo o mundo, não deixem de colocar limites nos seus filhos, pois é assim que vocês estarão possibilitando que eles se tornem verdadeiros cidadãos e seres mais humanos.

Laura Monte Serrat é psicopedagoga, professora de cursosde pós-graduação em Psicopedagogia e assessora deinstituições de ensino em diversas cidades brasileiras.E-mail: lauramonteserrat@bol.com.br

segunda-feira, 20 de julho de 2009

OSSOS DO CORPO HUMANO

A EDUCAÇÃO FÍSICA SEM DISTINÇÃO

por Gilson Brun

Um dos princípios que norteiam os Parâmetros Curriculares Nacionais para a área de Educação Física é o da Inclusão, que tem como meta inserir todos os alunos na cultura corporal de movimento, por meio da reflexão e da participação concreta e afetiva. Busca-se dessa forma reverter o quadro histórico da distinção entre indivíduos aptos e inaptos para as práticas corporais, resultante da valorização exacerbada do desempenho e da eficiência. Ou seja, explorando o aspecto social e participativo, procura-se fazer com que o aluno se integre cada vez mais, independentemente de sua capacidade física ou técnica.O que é inclusão?A inclusão diz respeito à aceitação e participação de todos no contexto social e está voltado principalmente às pessoas com deficiências, físicas ou mentais. Para que esse princípio passe a vigorar na sociedade, a escola deve ser a primeira a adotá-lo.Inclusão ou integração?Integração é um processo no qual a pessoa com deficiência é capaz de participar da escola do jeito que ela está organizada. Já a educação inclusiva é uma proposta de tornar a escola acessível, garantindo a participação de todas as pessoas. Para ilustrar a diferença, a integração seria o mesmo que nós termos, em um ginásio, uma ala reservada para portadores de deficiência física. Se o objetivo fosse a inclusão, eles poderiam se sentar em qualquer lugar do ginásio, e todas as vias de acesso às arquibancadas seriam adaptadas ao deslocamento deles.Inclusão e as aulas de Educação FísicaDisposição, boa vontade e determinação para quebrar conceitos antigos são alguns requisitos necessários para os professores tornarem sua classe inclusiva. Na nossa disciplina, esse princípio traz um grande benefício para todos os alunos, mesmo para os que não têm deficiências. Isso porque a grande parte deles se descobre capaz de praticar atos solidários e cooperativos, aumentando sua tolerância e compreensão em relação aos outros, o quse é muito importante, ainda mais na nossa sociedade, altamente competitiva.Vale a pena destacar que devemos nos preocupar também com alunos que tenham uma deficiência orgânica e técnica. O número de crianças obesas, por exemplo, é enorme, e a segregação nas aulas de educação física se torna evidente se as atividades tiverem um cunho predominantemente competitivo, se vencer for mais importante que tudo.É preciso criar nos nossos alunos o gosto pelo trabalho solidário e cooperativo, realizando atividades em que possam demonstrar o conhecimento aprendido em outras aulas ou em outras situações fora da escola e auxiliar seus colegas com ou sem deficiência.Com isso, estaremos fazendo a nossa parte no desenvolvimento de pessoas que sabem respeitar os outros de fato, independentemente de serem portadores de deficiências físicas, orgânicas ou técnicas.

UMA NOVA CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO FÍSICA

por Gilson Brun

No século XX, a educação física escolar no Brasil sofreu influências de correntes filosóficas, tendências políticas, científicas e pedagógicas.

Até a década de 50, a educação física foi influenciada pela área médica (higienismo), pelos militares ou acompanhou mudanças no próprio pensamento pedagógico. Nesse mesmo período histórico, eram importados modelos de práticas corporais, como os sistemas ginásticos alemão e sueco e o método francês. Os conteúdos de educação física eram repetições mecânicas de gestos e movimentos.

Na década de 60, com a introdução do Método Desportivo Generalizado, começou a haver uma certa confusão entre educação física e esporte. Nessa mesma época, as concepções teóricas e a prática real nas escolas se distanciaram. Ou seja, os processos de ensino e aprendizagem nem sempre acompanharam as mudanças do pensamento pedagógico.

Na década de 70, a Seleção Brasileira de Futebol conquistava o Tricampeonato Mundial de Futebol, e o regime autoritário utilizou o esporte como propaganda. O governo militar investiu na educação física principalmente com o objetivo de formar um exército composto por jovens sadios e fortes. Para isso, foi criado o chamado "modelo piramidal", de que a educação física escolar seria a base. A escola seria o "celeiro de novos talentos". A maior meta desse modelo era projetar cada vez mais a imagem do país através do desempenho dos seus atletas. Por isso, as aulas de educação física da época começaram a contemplar o aluno mais habilidoso em detrimento dos demais. Como o Brasil não se tornou uma potência olímpica conforme se pretendia, esse modelo faliu.

Na década de 80, ocorreram profundas mudanças. A educação física escolar, que estava voltada mais para os alunos de 5ª a 8ª série, começou a ser direcionada para a pré-escola e para os alunos de 1ª a 4ª série. O objetivo agora era o desenvolvimento psicomotor do aluno.

Atualmente, os Parâmetros Curriculares Nacionais nos apresentam quatro grandes tendências pedagógicas:

- PSICOMOTORA: nessa tendência, a educação física está envolvida com o desenvolvimento da criança, com os processos cognitivos, afetivos e psicomotores, buscando garantir a formação integral do aluno. O conteúdo predominantemente esportivo é substituído por um conjunto de meios para a reabilitação, readaptação e integração que valoriza a aquisição do esquema motor, da lateralidade e da coordenação viso-motora. A principal vantagem dessa abordagem é a maior integração com a proposta pedagógica da educação física. Porém, abandona completamente os conteúdos específicos dessa disciplina, como se o esporte, a dança, a ginástica fossem inapropriados para os alunos.

- CONSTRUTIVISTA: a intenção dessa tendência é a construção do conhecimento a partir das interações da pessoa com o mundo. Para cada criança a construção do conhecimento exige uma elaboração, uma ação sobre o mundo. A proposta teve o mérito de considerar o conhecimento que a criança já possui e alertar o professor sobre a participação dos alunos na solução dos problemas.

- CRÍTICA: passou a questionar as atitudes alienantes da educação física na escola, sugerindo que os conteúdos selecionados para a aula devem propiciar uma melhor leitura da realidade pelos alunos e possibilitar, assim, sua inserção transformadora nessa realidade.

- DESENVOLVIMENTISTA: busca nos processos de aprendizagem e desenvolvimento uma fundamentação para a educação física escolar. Grande parte do modelo dessa abordagem relaciona-se com o conceito de habilidade motora, pois é por meio dela que as pessoas se adaptam aos problemas do cotidiano. Para essa abordagem, a educação física deve proporcionar ao aluno condições para que seu comportamento motor seja desenvolvido pela interação entre o aumento da variação e a complexidade dos movimentos.

Essas quatro abordagens se desdobram em novas propostas pedagógicas. Nesse contexto, surge uma nova ordem nas propostas da atual Lei de Diretrizes e Bases, orientando para que a educação física se integre na proposta pedagógica da escola. Essa nova ordem dá autonomia para se construir uma nova proposta, passando para a escola e para o professor a responsabilidade da adaptação da ação educativa escolar.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

sexta-feira, 19 de junho de 2009