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segunda-feira, 20 de julho de 2009
A EDUCAÇÃO FÍSICA SEM DISTINÇÃO
por Gilson Brun
Um dos princípios que norteiam os Parâmetros Curriculares Nacionais para a área de Educação Física é o da Inclusão, que tem como meta inserir todos os alunos na cultura corporal de movimento, por meio da reflexão e da participação concreta e afetiva. Busca-se dessa forma reverter o quadro histórico da distinção entre indivíduos aptos e inaptos para as práticas corporais, resultante da valorização exacerbada do desempenho e da eficiência. Ou seja, explorando o aspecto social e participativo, procura-se fazer com que o aluno se integre cada vez mais, independentemente de sua capacidade física ou técnica.O que é inclusão?A inclusão diz respeito à aceitação e participação de todos no contexto social e está voltado principalmente às pessoas com deficiências, físicas ou mentais. Para que esse princípio passe a vigorar na sociedade, a escola deve ser a primeira a adotá-lo.Inclusão ou integração?Integração é um processo no qual a pessoa com deficiência é capaz de participar da escola do jeito que ela está organizada. Já a educação inclusiva é uma proposta de tornar a escola acessível, garantindo a participação de todas as pessoas. Para ilustrar a diferença, a integração seria o mesmo que nós termos, em um ginásio, uma ala reservada para portadores de deficiência física. Se o objetivo fosse a inclusão, eles poderiam se sentar em qualquer lugar do ginásio, e todas as vias de acesso às arquibancadas seriam adaptadas ao deslocamento deles.Inclusão e as aulas de Educação FísicaDisposição, boa vontade e determinação para quebrar conceitos antigos são alguns requisitos necessários para os professores tornarem sua classe inclusiva. Na nossa disciplina, esse princípio traz um grande benefício para todos os alunos, mesmo para os que não têm deficiências. Isso porque a grande parte deles se descobre capaz de praticar atos solidários e cooperativos, aumentando sua tolerância e compreensão em relação aos outros, o quse é muito importante, ainda mais na nossa sociedade, altamente competitiva.Vale a pena destacar que devemos nos preocupar também com alunos que tenham uma deficiência orgânica e técnica. O número de crianças obesas, por exemplo, é enorme, e a segregação nas aulas de educação física se torna evidente se as atividades tiverem um cunho predominantemente competitivo, se vencer for mais importante que tudo.É preciso criar nos nossos alunos o gosto pelo trabalho solidário e cooperativo, realizando atividades em que possam demonstrar o conhecimento aprendido em outras aulas ou em outras situações fora da escola e auxiliar seus colegas com ou sem deficiência.Com isso, estaremos fazendo a nossa parte no desenvolvimento de pessoas que sabem respeitar os outros de fato, independentemente de serem portadores de deficiências físicas, orgânicas ou técnicas.
UMA NOVA CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO FÍSICA
por Gilson Brun
No século XX, a educação física escolar no Brasil sofreu influências de correntes filosóficas, tendências políticas, científicas e pedagógicas.
Até a década de 50, a educação física foi influenciada pela área médica (higienismo), pelos militares ou acompanhou mudanças no próprio pensamento pedagógico. Nesse mesmo período histórico, eram importados modelos de práticas corporais, como os sistemas ginásticos alemão e sueco e o método francês. Os conteúdos de educação física eram repetições mecânicas de gestos e movimentos.
Na década de 60, com a introdução do Método Desportivo Generalizado, começou a haver uma certa confusão entre educação física e esporte. Nessa mesma época, as concepções teóricas e a prática real nas escolas se distanciaram. Ou seja, os processos de ensino e aprendizagem nem sempre acompanharam as mudanças do pensamento pedagógico.
Na década de 70, a Seleção Brasileira de Futebol conquistava o Tricampeonato Mundial de Futebol, e o regime autoritário utilizou o esporte como propaganda. O governo militar investiu na educação física principalmente com o objetivo de formar um exército composto por jovens sadios e fortes. Para isso, foi criado o chamado "modelo piramidal", de que a educação física escolar seria a base. A escola seria o "celeiro de novos talentos". A maior meta desse modelo era projetar cada vez mais a imagem do país através do desempenho dos seus atletas. Por isso, as aulas de educação física da época começaram a contemplar o aluno mais habilidoso em detrimento dos demais. Como o Brasil não se tornou uma potência olímpica conforme se pretendia, esse modelo faliu.
Na década de 80, ocorreram profundas mudanças. A educação física escolar, que estava voltada mais para os alunos de 5ª a 8ª série, começou a ser direcionada para a pré-escola e para os alunos de 1ª a 4ª série. O objetivo agora era o desenvolvimento psicomotor do aluno.
Atualmente, os Parâmetros Curriculares Nacionais nos apresentam quatro grandes tendências pedagógicas:
- PSICOMOTORA: nessa tendência, a educação física está envolvida com o desenvolvimento da criança, com os processos cognitivos, afetivos e psicomotores, buscando garantir a formação integral do aluno. O conteúdo predominantemente esportivo é substituído por um conjunto de meios para a reabilitação, readaptação e integração que valoriza a aquisição do esquema motor, da lateralidade e da coordenação viso-motora. A principal vantagem dessa abordagem é a maior integração com a proposta pedagógica da educação física. Porém, abandona completamente os conteúdos específicos dessa disciplina, como se o esporte, a dança, a ginástica fossem inapropriados para os alunos.
- CONSTRUTIVISTA: a intenção dessa tendência é a construção do conhecimento a partir das interações da pessoa com o mundo. Para cada criança a construção do conhecimento exige uma elaboração, uma ação sobre o mundo. A proposta teve o mérito de considerar o conhecimento que a criança já possui e alertar o professor sobre a participação dos alunos na solução dos problemas.
- CRÍTICA: passou a questionar as atitudes alienantes da educação física na escola, sugerindo que os conteúdos selecionados para a aula devem propiciar uma melhor leitura da realidade pelos alunos e possibilitar, assim, sua inserção transformadora nessa realidade.
- DESENVOLVIMENTISTA: busca nos processos de aprendizagem e desenvolvimento uma fundamentação para a educação física escolar. Grande parte do modelo dessa abordagem relaciona-se com o conceito de habilidade motora, pois é por meio dela que as pessoas se adaptam aos problemas do cotidiano. Para essa abordagem, a educação física deve proporcionar ao aluno condições para que seu comportamento motor seja desenvolvido pela interação entre o aumento da variação e a complexidade dos movimentos.
Essas quatro abordagens se desdobram em novas propostas pedagógicas. Nesse contexto, surge uma nova ordem nas propostas da atual Lei de Diretrizes e Bases, orientando para que a educação física se integre na proposta pedagógica da escola. Essa nova ordem dá autonomia para se construir uma nova proposta, passando para a escola e para o professor a responsabilidade da adaptação da ação educativa escolar.